Somo a minha voz ao coro de elogios a Mad Max Fury Road. E antes
que eu acabe explodindo, preciso liberar um pouco da adrenalina do filme aqui.
Então lá vai uma rapidinha de coisas que me chamaram atenção.
A fantasia masculina
Se existe um Deus no universo do Mad Max, então é um garoto
de 15 anos hiperativo.
Carros grandes saídos de comerciais do Hot Wheels, explosões,
armas pra todo lado, hard rock, porrada, e nenhum segundo de reflexão.
É uma sociedade infantilizada, em que boa parte da população é composta — e
movida — por War Boys, garotos pálidos cuja expectativa de vida, o filme dá a
entender, é tão pequena que nunca chegam à idade adulta. Todos sofrem de
câncer, e o único sentido da vida deles é chamar atenção da péssima figura
paterna do Immortan Joe e entrar para o Valhala, onde vão desfrutar de um McBanquete no céu.
Faz lembrar os milhares de jovens sempre dispostos a morrer como traficantes, policiais, soldados e terroristas, buscando acesso ao consumo e a um sentido de vida transcendente. (Sim, eu sei que é um filme mais pra entreter do que qualquer outra coisa, mas não significa que é um filme bobo e aleatório como muitos pensam. Assim como Gravidade, parece simples mas não é.)
Atravessando a cidade, aproveito pra passar no lava-rápido - HOTWHEELS! |
A procura pela figura materna
Pode-se dizer que o filme é um grande épico sobre a busca de
uma figura materna (e falo aqui como símbolo). Não uma busca por uma parideira, que é o papel da mulher na fortaleza de Immortan Joe, biológico apenas, mas pela
mãe que protege e nutre.
As Esposas e Furiosa procuram algo como “a terra das várias
mães” (não lembro o nome usado exatamente), elas querem proteção e amor. Mas descobrem
que cabe a elas assumirem o papel e serem as mães dessa sociedade com que
sonham. (A mudança de atitude é visível na relação da Esposa ruiva com Nux, o
jeito como ele é acolhido e levado a repensar seu mundo).
E dá para dizer que Max assume o papel de uma figura paterna
para essas mulheres e para a ideia de uma nova sociedade, ele é paternal sem
ser paternalista. Ele dá força, protege quando necessário, mas não vai ditar o
rumo que a sociedade vai tomar, como faz Immortan Joe.
Capable e Nux. |
A teatralidade orgânica
Há toda uma teatralidade no filme, as pessoas se movem e
agem de forma estilizada e usam frases de efeito. (What a lovely day!)
Volta e meia há uma cena em que uma personagem dialoga com
várias outras juntas, formando uma espécie de coro, o que me remeteu a peças
gregas antigas. Isso acontece quando Max encontra as Esposas e Furiosa pela
primeira vez, quando uma das Esposas decide se separar e buscar o perdão de
Immortan Joe, e quando Furiosa encontra sua tribo do Vale do Verde. Há sempre um
diálogo e conflito entre indivíduo e tribo/coro.
Zack Snyder e Frank Miller tentaram fazer isso e falharam. No
que 300 de Esparta e Spirit parecem afetação e exibicionismo (cabeças voando
pela tela no 300), no Mad Max é coerente e orgânico.
Essa situação é mais complicada ainda do que parece. |
Ação pensada
O problema da maioria dos blockbusters é que raramente você
tem a sensação de que o/a protagonista corre realmente risco. O máximo que eles
tentam fazer, pra dar peso à cena é matar coadjuvantes. É assim nos Vingadores,
no 300 de Sparta, em muitos filmes do
James Bond, os últimos Duro de Matar, enfim, a lista é enorme.
A ação nesses filmes não possui um arco narrativo, momentos
de clímax e antíclimax e pequenos e rápidos conflitos que o protagonista
precisa resolver em segundos. O diretor George Miller resolve isso sempre colocando
Max em desvantagem (preso no capô de um carro prestes a entrar numa tempestade,
no meio do conflito entre outros personagens, como Furiosa e Nux, e no centro
de dilemas morais, afinal Max deve salvar a própria pele ou se arriscar a
salvar alguém, mesmo que seja inútil.)
É o que impede o filme de se tornar chato como tantos.
Max aproveitando a vista. |
Detalhes interessantes
O jeito que Tom Hardy usa a voz, com grunhidos e palavras monossilábicas, passa a sensação de que Max fica muito tempo sozinho e, por isso, sente dificuldade em falar.
Quando Furiosa reencontra a tribo dela, há uma hora em que eles prestam uma homenagem a uma mulher que havia morrido (a mãe da Furiosa, se não me engano). Todos fazem um gesto com a mão, mas Furiosa, há muito tempo longe de sua cultura, se atrapalha um pouco. Sua expressão é ao mesmo tempo de reconhecimento e estranheza. Palmas para atuação da Charlize Theron.
Em uma cena em que Max briga no carro do guitarrista, é muito divertido ver em como o tempo todo o guitarrista só quer tocar guitarra, completamente alheio à porrada. Ele chega a colocar os braços em volta de Max para alcançar a guitarra.
As Esposas apresentam em boa parte do filme com roupas mais brancas do qualquer outro coisa em cena. No final, no entanto, as roupas assumem um tom amarelado próximo do deserto. Simbolizando, na minha opinião, que agora elas participam daquele mundo.
O filme parece ter sido gravado com menos quadros por segundo. Por causa disso os movimentos parecem saltar e tudo é mais acelerado e frenético do que o normal.
O filme parece ter sido gravado com menos quadros por segundo. Por causa disso os movimentos parecem saltar e tudo é mais acelerado e frenético do que o normal.
Furiosa num dia de bom humor. |
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