sábado, 30 de maio de 2015

Comentando Mad Max Fury Road



Somo a minha voz ao coro de elogios a Mad Max Fury Road. E antes que eu acabe explodindo, preciso liberar um pouco da adrenalina do filme aqui. Então lá vai uma rapidinha de coisas que me chamaram atenção.

A fantasia masculina

Se existe um Deus no universo do Mad Max, então é um garoto de 15 anos hiperativo.

Carros grandes saídos de comerciais do Hot Wheels, explosões, armas pra todo lado, hard rock, porrada, e nenhum segundo de reflexão. É uma sociedade infantilizada, em que boa parte da população é composta — e movida — por War Boys, garotos pálidos cuja expectativa de vida, o filme dá a entender, é tão pequena que nunca chegam à idade adulta. Todos sofrem de câncer, e o único sentido da vida deles é chamar atenção da péssima figura paterna do Immortan Joe e entrar para o Valhala, onde vão desfrutar de um McBanquete no céu.

Faz lembrar os milhares de jovens sempre dispostos a morrer como traficantes, policiais, soldados e terroristas, buscando acesso ao consumo e a um sentido de vida transcendente. (Sim, eu sei que é um filme mais pra entreter do que qualquer outra coisa, mas não significa que é um filme bobo e aleatório como muitos pensam. Assim como Gravidade, parece simples mas não é.)
Atravessando a cidade, aproveito pra passar no lava-rápido - HOTWHEELS!

A procura pela figura materna

Pode-se dizer que o filme é um grande épico sobre a busca de uma figura materna (e falo aqui como símbolo). Não uma busca por uma parideira, que é o papel da mulher na fortaleza de Immortan Joe, biológico apenas, mas pela mãe que protege e nutre.

As Esposas e Furiosa procuram algo como “a terra das várias mães” (não lembro o nome usado exatamente), elas querem proteção e amor. Mas descobrem que cabe a elas assumirem o papel e serem as mães dessa sociedade com que sonham. (A mudança de atitude é visível na relação da Esposa ruiva com Nux, o jeito como ele é acolhido e levado a repensar seu mundo).

E dá para dizer que Max assume o papel de uma figura paterna para essas mulheres e para a ideia de uma nova sociedade, ele é paternal sem ser paternalista. Ele dá força, protege quando necessário, mas não vai ditar o rumo que a sociedade vai tomar, como faz Immortan Joe.
Capable e Nux.


A teatralidade orgânica

Há toda uma teatralidade no filme, as pessoas se movem e agem de forma estilizada e usam frases de efeito. (What a lovely day!)

Volta e meia há uma cena em que uma personagem dialoga com várias outras juntas, formando uma espécie de coro, o que me remeteu a peças gregas antigas. Isso acontece quando Max encontra as Esposas e Furiosa pela primeira vez, quando uma das Esposas decide se separar e buscar o perdão de Immortan Joe, e quando Furiosa encontra sua tribo do Vale do Verde. Há sempre um diálogo e conflito entre indivíduo e tribo/coro.

Zack Snyder e Frank Miller tentaram fazer isso e falharam. No que 300 de Esparta e Spirit parecem afetação e exibicionismo (cabeças voando pela tela no 300), no Mad Max é coerente e orgânico.
Essa situação é mais complicada ainda do que parece.


Ação pensada

O problema da maioria dos blockbusters é que raramente você tem a sensação de que o/a protagonista corre realmente risco. O máximo que eles tentam fazer, pra dar peso à cena é matar coadjuvantes. É assim nos Vingadores, no 300 de Sparta,  em muitos filmes do James Bond, os últimos Duro de Matar, enfim, a lista é enorme.

A ação nesses filmes não possui um arco narrativo, momentos de clímax e antíclimax e pequenos e rápidos conflitos que o protagonista precisa resolver em segundos. O diretor George Miller resolve isso sempre colocando Max em desvantagem (preso no capô de um carro prestes a entrar numa tempestade, no meio do conflito entre outros personagens, como Furiosa e Nux, e no centro de dilemas morais, afinal Max deve salvar a própria pele ou se arriscar a salvar alguém, mesmo que seja inútil.)

É o que impede o filme de se tornar chato como tantos.
Max aproveitando a vista.


Detalhes interessantes

O jeito que Tom Hardy usa a voz, com grunhidos e palavras monossilábicas, passa a sensação de que Max fica muito tempo sozinho e, por isso, sente dificuldade em falar.

Quando Furiosa reencontra a tribo dela, há uma hora em que eles prestam uma homenagem a uma mulher que havia morrido (a mãe da Furiosa, se não me engano). Todos fazem um gesto com a mão, mas Furiosa, há muito tempo longe de sua cultura, se atrapalha um pouco. Sua expressão é ao mesmo tempo de reconhecimento e estranheza. Palmas para atuação da Charlize Theron.

Em uma cena em que Max briga no carro do guitarrista, é muito divertido ver em como o tempo todo o guitarrista só quer tocar guitarra, completamente alheio à porrada. Ele chega a colocar os braços em volta de Max para alcançar a guitarra.
 
As Esposas apresentam em boa parte do filme com roupas mais brancas do qualquer outro coisa em cena. No final, no entanto, as roupas assumem um tom amarelado próximo do deserto. Simbolizando, na minha opinião, que agora elas participam daquele mundo.

O filme parece ter sido gravado com menos quadros por segundo. Por causa disso os movimentos parecem saltar e tudo é mais acelerado e frenético do que o normal.
Furiosa num dia de bom humor.

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